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26.3.07

Podas no Palácio: resposta da Porto Lazer, E.M.

«Ex.mo Senhor Dr. Paulo Ventura Araújo:

Acusamos a recepção do mail e do
comunicado de imprensa elaborados por V. Ex.ª relativos aos Jardins do Palácio de Cristal e às podas que estão levadas a cabo na Av.ª das Tílias.

Foi com apreço que verificamos as inúmeras referências às espécies arbóreas dos Jardins do Palácio de Cristal expressas no livro À sombra de árvores com história de que V. Ex.ª é co-autor e pelo qual não queremos deixar de o congratular, considerando-o um levantamento de grande importância na afirmação da Cidade como elemento preservador de árvores centenárias.

Actualmente cabe à PortoLazer, E.M. a gestão deste espaço e a coordenação das actividades e trabalhos nele desenvolvidos. Contamos com a colaboração de pessoal técnico do Pelouro do Ambiente, bastante experiente e devidamente credenciado, ao qual pertencem os jardineiros, destacados exclusivamente para os Jardins do Palácio de Cristal, fruto do espírito de colaboração existente na entre a Câmara Municipal do Porto e as entidades participadas, grupo em que se insere da PortoLazer, E.M.

A nossa preocupação com o tratamento destes jardins, levou-nos em finais de 2006 a encetar contactos com o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, entidade da qual aguardamos a definição de um plano de acções que vise colaboração na identificação da fauna e flora características deste espaço. Temos também a decorrer um exaustivo levantamento topográfico que, no âmbito de um projecto com o Departamento de Botânica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, nomeadamente do curso de Arquitectura Paisagística, permitirá o desenvolvimento de trabalhos de localização e posterior catalogação das espécies arbóreas de maior importância deste local.

As Tílias em questão são fortemente fustigadas por ventos em dias de intempérie, não passando um único Inverno sem acontecerem quedas, de todo indesejáveis por motivos de preservação deste espólio e de segurança dos próprios transeuntes. Tal facto é sem dúvida gravoso. Estamos a perder elementos de importância ambiental e histórica, pois, no presente Inverno um único dia de temporal resultou na perda de quatro destas árvores.

A sua idade avançada e o facto de estarem implantadas num terreno que pelas suas características e utilizações passadas se tornou demasiado compacto, face à morfologia da própria espécie – pouca dispersão de raízes e forte crescimento da copa – associado ao posicionamento geográfico que, fruto de algumas construções, tornou esta avenida num local bastante ventoso, obriga a que seja levado a cabo este tipo de intervenção, efectuada pelo pessoal técnico acima mencionado e devidamente habilitado para o efectuar. Referimos ainda que há cerca de 15 anos que este tipo de intervenção não é levada a cabo, com excepção da zona frontal á Capela Carlos Alberto. Todo este período sem intervenções menores, obriga agora a podas de maior calibre. Assim sendo, os motivos da poda não são justificados por estudos fitossanitários, mas sim pelos motivos que atrás referimos. As podas diminuem o volume das copas tornando as tílias mais equilibradas, aumentando consequentemente a sua sustentabilidade e resistência. A nossa preocupação com a preservação obriga a tal intervenção. Ironicamente conforme V. Ex.ª menciona, uma tília podada caiu. O motivo da queda prende-se com o facto de ter sido atingida por uma outra que há 15 anos não era alvo de intervenção.

As podas dos choupos - espécie resistente e de crescimento rápido - da encosta de Massarelos, tiveram como móbil a manutenção da visibilidade de uma das mais emblemáticas vistas da cidade e destes jardins, sobre o rio Douro e a Ponte da Arrábida.

Poderemos comprovar através de uma análise técnica efectuada pela Direcção Regional de Agricultura de Entre-Douro e Minho, que a perda das várias árvores e arbustos do jardim formal à entrada, denominado Jardim Emile David, está relacionado com podridão radicular originada por um fungo identificado como armillaria spp, sendo que tal acontecimento nada tem a ver com a falta de cuidado na abertura de valas.

O Jardim dos Sentimentos foi inaugurado em 2001, época em que os Jardins do Palácio de Cristal eram geridos pela extinta Divisão Municipal de Instalações Recreativas e Culturais (DMIRC). Não temos dúvidas quanto às boas intenções da DMIRC na reabilitação de um local anteriormente abandonado aquando da coordenação e construção do Jardim dos Sentimentos. Apesar das deficiências de projecto que aponta, canalizamos os nossos esforços para a preservação das espécies ainda existentes, não abandonando este espaço à mercê das ervas daninhas.

O Jardim de Roterdão é outro caso anterior ao presente modelo de gestão do espaço. A maioria dos elementos constituintes deste Jardim foi oferecido pela cidade de Roterdão. Foram criados canteiros para flores, neste caso tulipas, que não resultaram devido à sombra deste local provocada pelas árvores de grande porte, limitando o seu crescimento. Optou-se por requalificar o espaço, relvando-o de modo a não apresentarmos canteiros despidos. Exemplo dessa requalificação foi a plantação no Dia da Árvore de dois diospireiros oferecidos pela Cidade de Nagazaki no âmbito do projecto KAKI TREE e da geminação que o Porto tem com essa cidade, espécies ainda pequenas mas com elevado valor patrimonial, uma vez que descendem de uma árvore sobrevivente à bomba atómica.

Resta acrescentar que actualmente nos encontramos a analisar uma proposta de colaboração com uma entidade externa para recuperação do mencionado Jardim dos Cheiros, mais conhecido por Jardim das Aromáticas.

Contrariamente ao que V. Ex.ª menciona, não existem motivos para duvidar da bondade das nossas intervenções. Agimos de boa fé, pois pretendemos preservar todas as espécies para as gerações futuras e simultaneamente proporcionar um espaço agradável, sendo que em alguns casos a base dos projectos tenha que ser ajustada.

Sem outro assunto de momento e ao dispor para qualquer esclarecimento adicional que por bem V. Ex.ª considere necessário, despedimo-nos agradecendo todo o interesse demonstrado e apresentando os nossos melhores cumprimentos.

Atentamente,

O Chefe de Serviço

Bernardo Vilar Soares»

23.3.07

Jardins do Palácio de Cristal: um lamentável caso de má gestão

- comunicado da Campo Aberto à imprensa



A recente e violenta poda realizada na avenida das tílias do Palácio de Cristal, repetindo a asneira cometida há cerca de dois anos, deixou as árvores num estado tal que não pode deixar de chocar os frequentadores e visitantes do mais emblemático jardim portuense. A gestão do espaço tem sido assegurada por uma empresa municipal (a Porto Lazer) sem vocação nem competência para essa nobre tarefa. É urgente que a Câmara Municipal do Porto transfira essa gestão para os serviços do Pelouro do Ambiente – pois é inadmissível que as boas práticas que se observam nos restantes locais públicos da cidade não transponham os portões do Palácio.

Os jardins do Palácio de Cristal são dos locais mais frequentados da cidade e mais visitados por turistas. Um terreno acidentado, disposto em vários patamares, permitiu a criação, num espaço relativamente reduzido, de vários ambientes diferenciados: os jardins formais e geométricos logo à entrada do recinto, as alamedas de plátanos e tílias, o bosquete de camélias nas traseiras da biblioteca Almeida Garrett, o arboreto e a esplanada em redor do lago, os vários miradouros que deixam espreitar o curso do rio Douro desde Miragaia até à Foz.

Além do seu valor turístico, social e ambiental, os jardins do Palácio são importantes pelo seu valor histórico. Criados na década de 1860 por iniciativa de Alfredo Allen, com desenho do paisagista alemão Emílio David, são dos espaços ajardinados mais antigos do Porto: só o Jardim de S. Lázaro é mais antigo, sendo o Jardim da Cordoaria, também de Emílio David, alguns anos mais novo. Mas, enquanto S. Lázaro mantém o seu carácter original, o jardim de Emílio David na Cordoaria foi completamente obliterado pela Porto 2001. O Palácio de Cristal, de onde já desapareceu o edifício que lhe deu o nome, é pois o último espaço público do Porto a conservar alguma da herança dessa figura tão influente na arte dos jardins em Portugal.

Um património tão valioso como este, e um espaço tão marcante para a imagem do Porto (tanto aquela que a cidade tem de si própria como a que oferece aos visitantes), deveria merecer, por parte da Câmara Municipal, os mais desvelados esforços de manutenção e embelezamento. Infelizmente, por razões burocráticas que hoje mal se entendem, os jardins do Palácio de Cristal não estão na dependência nem do Pelouro do Ambiente, nem dos serviços municipais a ele subordinados que têm a missão de cuidar deste tipo de espaços. Tanto o Departamento Municipal de Espaços Verdes e Higiene Pública como a Divisão Municipal de Parques e Jardins não têm qualquer palavra a dizer sobre os jardins do Palácio: quem lá manda é a empresa municipal Porto Lazer, que os herdou do extinto Gabinete de Desporto. Tudo isto seria de somenos importância se os jardins e o seu património vegetal andassem bem tratados; como não andam, a comparação com outros espaços públicos da cidade leva-nos à conclusão inevitável: a Câmara do Porto abdica de usar as competências que tem (em jardinagem, no tratamento de árvores ornamentais, etc.) no mais emblemático jardim à sua guarda. O que se tem passado no Palácio de Cristal é uma combinação nefasta de incompetência e negligência.



O caso mais flagrante de incompetência é o estado em que ficou a avenida das tílias depois de uma série de podas insensatas, a primeira e mais radical feita há cerca de dois anos e a segunda há duas semanas. No extremo sul da avenida, junto à capela de Carlos Alberto, o que temos não são árvores, mas sim tocos: restos mutilados de árvores, sem utilidade e sem beleza. Não é plausível a justificação de que as árvores estariam doentes, pois a motosserra tanto atacou árvores jovens como adultas, e as feridas que ficaram expostas nos troncos mostram bem como elas estavam saudáveis. Terá sido por receio de as árvores caírem? É que, nos últimos anos, várias tílias têm lá caído empurradas pelo vento. Mas, por ironia, também tombaram árvores que tinham sido podadas preventivamente, o que mostra que tal remédio não é seguro. E se o preço para manter as árvores de pé é reduzi-las a tocos disformes, então mais vale desistirem das tílias e plantarem árvores mais resistentes às intempéries. Não tem sentido manter uma alameda de tílias – árvores ornamentais por excelência, admiradas pela harmonia e simetria das suas copas – neste estado miserável.

Em todo o caso, é importante que a Porto Lazer, E.M. responda às seguintes perguntas:
  1. Foi feito algum estudo fitossanitário que justificasse intervenções tão drásticas como as que foram feitas nas tílias da avenida?
  2. As podas foram acompanhadas por algum técnico de arboricultura credenciado?
  3. A empresa que as executou tem pessoal devidamente habilitado para estas intervenções?
Nas intervenções que os serviços da Câmara têm vindo a fazer em espaços públicos (árvores de arruamento, jardins, etc.), a resposta a perguntas análogas é afirmativa; é que, felizmente, já não é comum ver na cidade (fora do Palácio) árvores tão mal podadas como estas tílias. Que não são, no Palácio, as únicas vítimas deste tipo de tratamento: no final de 2004, os jovens choupos na encosta que desce para Massarelos sofreram um podão que apenas lhes deixou os troncos.

Outros casos mais ou menos recentes são indicativos de negligência. Em 2003, foi instalado um sistema automático de rega no jardim formal à entrada; na abertura dos regos usou-­se uma escavadora e não houve a precaução de não se cortarem raízes; em resultado disso – e talvez também do excesso de água – várias árvores e arbustos vieram posteriormente a perder­-se.

Os vários jardins temáticos estão ao abandono. O Jardim dos Sentimentos, construído num socalco voltado para a rua da Restauração e inaugurado em Janeiro de 2001, embora parta de uma ideia interessante (divulgar alguma da simbologia associada às plantas) e faça uso de um espaço antes desaproveitado, tem por base um mau projecto. Todo o jardim assenta numa placa de cimento; e, entre tanques de água estagnada e caminhos em zigue­zague, sobram uns canteiros estreitos, de pequeníssima profundidade. As plantas que têm morrido – e têm sido quase todas – não são substituídas, e as etiquetas também já desapareceram: o efeito geral é desolador. Melhor sorte poderia ter tido o Jardim dos Cheiros, pois aí as condições não são tão adversas para as plantas; mas o abandono a que foi votado transformou-­o num matagal onde há mais vegetação daninha do que plantas aromáticas. Finalmente, há o caso caricato do Jardim de Roterdão: inaugurado em 2001, ano em que essa cidade holandesa partilhou com o Porto o título de Capital Europeia da Cultura, foi concebido como um jardim para flores sazonais, mas está hoje convertido num triste relvado.

A gestão dos jardins do Palácio de Cristal não tem estado à altura da importância patrimonial, histórica e social desse lugar único da cidade do Porto. E é à Câmara Municipal do Porto, através do seu Pelouro do Ambiente, que cabe resolver o problema.


Porto, 23 de Março de 2007

P.S. Veja fotos da poda de 2005 no blogue A Cidade Surpreendente

21.3.07

A ler

no Sombra Verde o esclarecimento público de Pedro Santos a propósito dos comentários publicados pelo Diário XXI referentes à sua denúncia das podas calamitosas que têm vindo a ser feitas na Covilhã.
O artigo do jornal intitula-se, muito apropriadamente, "Falta planeamento para as árvores em espaços urbanos".

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"Deixem-nas crescer!"


Publica-se hoje este texto da autoria de C. Coutinho, Técnico Agrícola, a quem agradeço a amável contribuição.«Algumas notas sobre as árvores ornamentais em meio urbano
As árvores ornamentais dos jardins, parques e ruas dos aglomerados urbanos são fonte de saúde e beleza. Proporcionam sombra, odores balsâmicos (como as Tílias, por exemplo, quando floridas), repouso para o espírito. Desempenham ainda importantes funções orgânicas, mais ou menos conhecidas de todos, como a produção de oxigénio.

As árvores ornamentais em meio urbano têm ainda grande importância na retenção de poeiras e partículas de poluição, na absorção de ruídos, na retenção de água no solo, na redução do impacto da chuva sobre o solo, ou como abrigos para aves insectívoras e outros pequenos animais, aves e mamíferos. As árvores de folha caduca desempenham também o papel de reguladores térmicos - cobertas de folhas durante o Verão, filtram os raios solares e amenizam o ambiente; durante o Inverno, deixam passar a luz e o calor do Sol através dos seus ramos despidos, retendo calor no solo e nos edifícios circundantes durante mais tempo.

As árvores, quando plantadas as espécies adequadas, nos locais adequados e bem cuidadas, acabam por contribuir para dar aos parques, jardins, e até pequenos recantos em que se encontram, boa parte da personalidade e do ambiente peculiar desses locais.

Em inúmeras localidades do nosso país, as árvores ornamentais são submetidas pelos serviços camarários, a "podas" sistemáticas e violentas, que as desfiguram e enfraquecem.

Deve ressalvar-se, antes de mais, que estas práticas nada têm a ver com poda. A poda, tanto das árvores e arbustos de fruto, como das ornamentais, é uma arte e uma técnica sujeita a princípios sustentados em bases científicas.
Esta mal chamada "poda" visa, pretensamente, dar um ar de "limpeza" e um aspecto "cuidado" às árvores alvo destes maus tratos.

A "poda camarária" - uma espécie de "vandalização institucional" dos arvoredos do domínio público - é feita normalmente com serrotes de grandes dimensões, quando não à moto-serra, apropriados para decepar os ramos mais grossos das árvores. O resultado pode ver-se nas imagens que acompanham este texto.

Nenhum argumento técnico, muito menos estético, pode justificar este massacre anual dos arvoredos públicos. A "poda camarária" é apenas um mau hábito, rotineiro e como todos os hábitos deste tipo, não tem nenhuma explicação.

Estas chamadas "podas" arruínam as árvores. O corte da maior parte da copa, como é habitual fazer-se, priva a árvore das suas reservas nutritivas, acumuladas no Verão anterior, e que lhe permitiriam iniciar novo período vegetativo na Primavera seguinte. As árvores "podadas" rebentam mais tarde que as não “podadas”, com muita dificuldade e produzindo ramos enfezados e deformados.

Outro efeito pernicioso desta "poda" é a morte de parte das raízes que levam a água e os nutrientes minerais para os ramos decepados e deles recebiam, por sua vez, açúcares elaborados pelas folhas. Em consequência, reduz-se a base de sustentação da árvore, que pode cair mais facilmente, sobretudo durante os temporais.

Pelos cortes extensos abertos por esta lamentável prática, entram inúmeros fungos causadores de doenças da madeira, que acabam por enfraquecer e até matar as árvores.

As Câmaras municipais, e outras entidades, plantam mal e de modo inadequado, poucas árvores e pouco diversificadas: Tílias, Plátanos, Choupos e ficam-se quase por aí. Como são árvores de grande porte, não são ajustadas a todos os locais. Ou seja, quando as plantam em sítios onde elas, ao crescerem, vêm a não caber, passam depois a vida a cortá-las, a fazer a tal "poda", na tentativa vã de remediarem o erro original de plantação.

No entanto, mesmo as árvores plantadas em locais amplos e abertos, onde se poderiam desenvolver à vontade, são objecto do mesmo mau trato.

Por outro lado, deita-se abaixo com a maior das facilidades, esquecendo que o que se corta em poucos minutos, levou dezenas de anos, quando não séculos, a criar.

No fundo, as autarquias gastam dinheiro a plantar árvores para depois as irem matando lentamente, pela prática de uma "poda" isenta de quaisquer regras técnicas e objectivos racionais.

Em face deste panorama, que sentido podem ter as declarações de boas intenções quanto à educação ambiental, o "Dia da Árvore", os belos folhetos sobre o ambiente e todo o discurso "ambientalista" que está na moda (porque dá votos)?

Apesar do que acima fica dito, são de ressalvar e saudar as excepções do costume, entre as quais podemos incluir, dum modo geral, a Câmara do Porto. Esta tem vindo, desde há uns 10 ou 15 anos, pelo menos, uma atitude mais racional e deixou de praticar estas tais "podas".
Se estas chamadas "podas" são lamentáveis e condenáveis quando feitas pelas autarquias, muito mais o são quando feitas nos espaços de recreio dos estabelecimentos de ensino. Estas situações são vulgares - demasiado - e extremamente perniciosas por aí, aos danos infligidos ao arvoredo, acrescer o impacto deseducativo que têm junto das crianças e jovens que frequentam a escola > .

Como, no entanto, não deixo de ter uma inabalável confiança na capacidade humana para reflectir e para corrigir os erros, gostaria de acrescentar à crítica a sugestão de algumas medidas que poderiam ser tomadas para melhorar esta situação:

  • plantar espécies de pequeno, médio ou grande porte, adequadas a cada situação e cada local;
  • diversificar as espécies dos nossos jardins e ruas, utilizando árvores e arbustos, sobretudo da nossa Flora nacional e local, melhor adaptadas ao meio. Plantar árvores de fruto, como nogueiras, castanheiros ou até variedades regionais de laranjeira, por exemplo.
  • acabar de vez com a chamada "poda"; o tempo e o trabalho das pessoas empregues nestas práticas pode ser utilizado com maior proveito na plantação de novas árvores e no tratamento adequado das que já existem.
  • respeitar a forma natural das árvores, dada pela Natureza em milhões de anos de evolução e selecção naturais. Para isto, é necessário plantar árvores sãs e sem cortes na sua copa original, (sobretudo sem o habitual atarraque do eixo da árvore, que os nossos "jardineiros" tanto gostam de fazer) e deixá-las crescer, cuidando apenas de as alimentar e amparar, sobretudo enquanto jovens. Qualquer intervenção de corte, deverá ser feita de preferência no Verão, período em que a árvore está em plena actividade, as feridas abertas pelos instrumentos de corte cicatrizam com relativa facilidade e são menores os riscos de infecção das feridas por fungos. No entanto, estas operações devem limitar-se à retirada de ramos secos ou tocos de ramos quebrados por qualquer acidente, pernadas que eventualmente possam tocar em fios eléctricos ou noutras situações a definir criteriosamente.
  • promover a educação ambiental e o respeito pela árvore, ser vivo complexo e admirável, que não temos nenhum direito de destruir. Lembro, por exemplo, que um dos objectivos traçados pelo Ministério da Educação para o ensino básico é a educação ambiental. Como poderemos promover a educação ambiental, tendo em conta o apoio que a comunidade deve dar à Escola, se continuamos a dar este tratamento às poucas árvores que existem nas nossas vilas e cidades e este mau exemplo? Por outro lado, é preciso sensibilizar também os mais velhos, sabendo-se que muita gente, por ignorância, embirra com as árvores, e chegam a fazer pedidos ridículos às autarquias, no sentido de as “podar“, deitar abaixo, "porque as folhas, flores e frutos que caem sujam", etc..
Apelo aqui também à constituição e reforço de movimentos de opinião, mesmo informais, que possam intervir activamente na educação para o respeito pela árvore e pela natureza no seu conjunto.

Aos interessados pelo tema, sugiro, por fim, a leitura de dois livros excelentes, ambos actualmente disponíveis nas livrarias:

  • A Árvore em Portugal de Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Teles, Editora Assírio & Alvim, 1999 (um livro excelente e muito esclarecedor, cuja primeira edição data de há 40 anos).
  • A Poda das árvores ornamentais, FAPAS - Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens , Porto »

    C. Coutinho
    Técnico Agrícola


.........................


20.3.07

"Haverá justificação para isto?"

Pergunta-se no blogue Burgalhau
Pelos vistos a praga não grassa só no "continente"

Plátanos decepados- Ilha da Graciosa- Açores

1.3.07

Nos jornais - "Árvores foram podadas por recomendação de estudo da UTAD"

No Jornal de Notícias por antónio orlando :

«Cidade ficou "despida" de árvores

Quem por estes dias visitar a cidade de Amarante notará, por certo, algo de estranho na paisagem. Num olhar mais atento, rapidamente chega à conclusão de que a paisagem mudou porque as bem conhecidas árvores foram "despidas". Oficialmente, a explicação é que estão doentes. Mas quem passa nas ruas lamenta a sua morte. Amadeo de Souza-Cardoso por certo também "já reparou" que algo de estranho se passa.
Na praça que acolhe a estátua e o museu do célebre pintor, três tílias foram deitadas abaixo por ordem da Câmara. Do outro lado da ponte de S. Gonçalo, outrora fatalmente atravessada pela tropas francesas, o parque das tílias da Casa da Calçada levou "uma poda radical". As cinco árvores estão, agora, perfiladas, sem um único ramo.
Talvez a chegada da Primavera lhes traga algumas folhas. "Toda a poda foi feita com acompanhamento de pessoas habilitadas, no caso pelo Parque de Serralves", explicou, ao JN, Aguiar Branco, administrador da Casa da Calçada. O responsável garante que não faz qualquer sentido dizer-se que a poda radical tem a ver com as vistas do terraço da estalagem . "Isso não faz parte da nossa maneira de estar".
A replantação, a acontecer, será "sempre com acompanhamento técnico", acrescenta. A Câmara "lamenta", porém, ter abatido três árvores na Alameda de Teixeira de Pascoaes.
"A decisão decorre de um estudo da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que avaliou o seu estado e concluiu da necessidade do abate, em virtude da sua precária estabilidade". As árvores - um carvalho, uma tília e um castanheiro da Índia - situavam-se em zonas pedonais e de estacionamento, "pelo que poderiam pôr em causa pessoas e bens". »

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